A vida da cruz no Reino
Estou lendo o evangelho de Marcos aos poucos, por perícope (trecho). O trecho de hoje é Mc 8.34─9.1. (Outra divisão de capítulo infeliz!) Jesus que tinha acabado de falar da natureza de sua função como Messias, agora mostra que seu seguidor compartilhará de sofrimentos também. Avisa sobre o custo e as consequências do seguimento. Ele associa com sua pessoa o evangelho e as suas palavras, vv. 35, 38.
34 E, chamando a multidão com os discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. 35 Pois quem quiser preservar sua vida, irá perdê-la; mas quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, irá preservá-la. 36 Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida? 37 Ou, que daria o homem em troca da sua vida? 38 Quando o Filho do homem vier na glória de seu Pai com os santos anjos, ele também se envergonhará de quem se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora. 1 Disse-lhes mais: Em verdade vos digo que, dentre os que estão aqui, há alguns que de modo algum provarão a morte até que vejam o reino de Deus chegando com poder.
Veja esta citação do comentário bíblico de Oxford:
Assim como o destino de Jesus é sofrer e morrer, qualquer discípulo de Jesus deve estar preparado para fazer o mesmo. O fato de Marcos ter esse ensinamento dirigido à “multidão” v. 34, bem como aos discípulos, pode sugerir que Marcos deliberadamente pretende que essa mensagem seja levada a um público mais amplo do que apenas os Doze como contemporâneos de Jesus. O mesmo pode ser implícito pela referência ao “evangelho” no v. 35 (…). O “evangelho” aqui é paralelo ao próprio Jesus, de modo que sofrer por causa do evangelho e por causa de Jesus são virtualmente sinônimos. Marcos tem em mente a comunidade cristã posterior pregando o evangelho, alertando-os de que eles também devem estar preparados para sofrer.
Bem apropriado este comentário online:
Negar a si mesmo não significa apenas viver uma vida de autonegação ou disciplina. No primeiro século, carregar sua cruz significava ir para uma morte lenta e excruciante. Ser discípulo de Jesus significa desistir de tudo por ele. Claro, para a maioria dos fiéis, isso não significará martírio. Mas significa um compromisso total com o reino de Deus.
O irmão Roger Dickson, cujo livro: Estudos na doutrina de Cristo, publicamos aqui no Brasil, mas hoje ele trabalha na África do Sul, escreveu sobre o 9.1:
Alguns dos discípulos imediatos de Jesus estariam vivos quando o reino de Jesus fosse manifestado do céu. Após sua ressurreição, Jesus ascenderia ao trono de Davi no céu, Lc 1.31-33. Ele estaria à direita do Pai e governaria sobre todas as coisas, Ef 1.20-22; Fp 2.8-11; 1 Pe 3.22. Seu reino, portanto, seria do céu, não desta terra. Ele seria estabelecido nos dias de alguns dos discípulos que estavam em sua presença na época em que esta declaração foi feita. De fato, o reino seria estabelecido em menos de dois anos a partir do momento em que Jesus fez esta profecia (veja comentários At 2). Era um reino espiritual no sentido de que os homens respondiam na terra em seus corações ao fato de que ele era Senhor e Cristo, ver Mt 16.18-19; Lc 17.20-21; Jo 18.36-38; At 2.36-37. Vem com poder: a tradução aqui poderia ser “presente com poder”. A manifestação do reino de Jesus no céu foi tornada conhecida pelo derramamento do Espírito Santo em At 2.1-4, ver Lc 24.49; At 1.8; 2.1-4. A presença do reino no céu seria manifestada na terra pela obediência de homens e mulheres que se submetessem ao seu reino.
No 9.1, portanto, Jesus fala da manifestação do reino como sendo a igreja na terra. A vida da cruz é para ser vivida neste momento da igreja e por ela.